quinta-feira, janeiro 05, 2006

Escuta "Zé Ninguém"

A patinagem deve estar inserida no Mundo. Para isso, a reflexão deve contemplar esse mesmo Mundo.
Revolucionar mentalidades é dificil. No entanto, o povo já diz "água mole em pedra dura...".
Aqui vai um pequeno contributo de Wilhelm Reich, nasceu a 24 de Março de 1897 nos confins orientais da Galícia:
«Escuta, Zé Ninguém!
Chamam-te “Zé Ninguém!” “Homem Comum” e, ao que dizem, começou a tua era, a “Era do Homem Comum”. Mas não és tu que o dizes, Zé Ninguém, são eles, os vice-presidentes das grandes nações, os importantes dirigentes do proletariado, os filhos da burguesia arrependidos, os homens de Estado e os filósofos. Dão-te o futuro, mas não te perguntam pelo passado.
Tu és herdeiro de um passado terrível. A tua herança queima-te as mãos, e sou eu que to digo. A verdade é que todo o médico, sapateiro, mecânico ou educador que queira trabalhar e ganhar o seu pão deve conhecer as suas limitações. Há algumas décadas, tu, Zé Ninguém, começaste a penetrar no governo da Terra. O futuro da raça humana depende, à partir de agora, da maneira como pensas e ages. Porém, nem os teus mestres nem os teus senhores te dizem como realmente pensas e és, ninguém ousa dirigir-te a única critica que te podia tornar apto a ser inabalável senhor dos teus destinos. És “livre” apenas num sentido: livre da educação que te permitiria conduzires a tua vida como te aprouvesse, acima da autocrítica.
Nunca te ouvi queixar: “Vocês promovem-me a futuro senhor de mim próprio e do meu mundo, mas não me dizem como fazê-lo e não me apontam erros no que penso e faço”.
Deixas que os homens no poder o assumam em teu nome. Mas tu mesmo nada dizes. Conferes aos homens que detêm o poder, quando não o conferes a importantes mal intencionados, mais poder ainda para te representarem. E só demasiado tarde reconheces que te enganaram uma vez mais.
Mas eu entendo-te. Vezes sem conta te vi nu, psíquica e fisicamente nu, sem máscara, sem opção, sem voto, sem aquilo que fiz de ti “membro do povo”. Nu como um recém-nascido ou um general em cuecas. Ouvi então os teus prantos e lamúrias, ouvi-te os apelos e esperanças, os teus amores e desditas. Conheço-te e entendo-te. E vou dizer-te quem és, Zé Ninguém, porque acredito na grandeza do teu futuro, que sem dúvida te pertencerá. Por isso mesmo, antes de tudo o mais, olha para ti. Vê-te como realmente és. Ouve o que nenhum dos teus chefes ou representantes se atreve a dizer-te:
És o “homem médio”, o “homem comum”. Repara bem no significado destas palavras: “médio” e “comum”.
Não fujas. Tem ânimo e contempla-te. “Que direito tem este tipo de dizer-me o que quer que seja?” Leio esta pergunta nos teus olhos-amedrontados. Ouço-a na sua impertinência, Zé Ninguém. Tens medo de olhar para ti próprio, tens medo da crítica, tal como tens medo do poder que te prometem e que não saberias usar. Nem te atreves a pensar que poderias ser diferente: livre em vez de deprimido, directo em vez de cauteloso, amando às claras e não mais como um ladrão na noite. Tu mesmo te desprezas, Zé Ninguém, Dizes: “Quem sou eu para ter opinião própria, para decidir da minha própria vida e ter o mundo por meu?” E tens razão: Quem és tu para reclamar direitos sobre a tua vida? Deixa-me dizer-te.
Diferes dos grandes homens que verdadeiramente o são apenas num ponto: todo o grande homem foi outrora um Zé Ninguém que desenvolveu apenas uma outra qualidade: a de reconhecer as áreas em que havia limitações e estreiteza no seu modo de pensar e agir. Através de qualquer tarefa que o apaixonasse, aprendeu a sentir cada vez melhor aquilo em que a sua pequenez e mediocridade ameaçavam a sua felicidade.
O grande homem é, pois, aquele que reconhece quando e em que é pequeno. O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões de força e grandeza, força e grandeza alheias. Que se orgulha dos seus grandes generais, mas não de si próprio. Que admira as idéias que não teve, mas nunca as que teve. Que acredita mais arraigadamente nas coisas que menos entende, e que não acredita no que quer que lhe pareça fácil de assimilar
.(…)».

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

aos que ainda desenvolvem ideias, aos que se sacrificam por tentarem... continuem!
sou feliz por seres quem és!CH

12:39 da manhã WET  
Anonymous Anónimo said...

“Ano Novo, Vida Nova…não sei se acredito…”
Apesar de já termos entrado no novo ano e de os desejos se formularem nos primeiros minutos, ao sabor de cada passa ou grão de romã, conforme o costume ou a crença, não queria deixar de passar aqui, a minha reflexão sobre o novo ano acabadinho de nascer.
Como é oportuno e fica bem, quero num primeiro momento desejar, a todos aqueles com quem nos cruzamos nesta pista de patinagem, muitos sucessos
Na segunda passa, gostava de desejar que aqueles que tem a primazia de decidir o destino ou a sorte de muitos atletas, que o faça em consciência imparcialidade, com critérios de justiça, igualdade de tratamento e isenção.
Na terceira, gostava de desejar que o novo ano, fosse mesmo novo, ou seja, que mudasse alguma coisa. Que mudasse aquilo que todos dizem estar mal, aquilo que todos falamos e alguns, fazem como se de nada se tratasse. Afinal porque será que falam de Ano Novo…Vida Nova!!!
Pensei sempre que as pessoas mudavam, que as leis prevaleciam, que os direitos são para ser usufruídos e exigidos, mas parece que só alguns pensam assim.
Eu acredito no futuro e nos homens e, apesar de todas as adversidades, acho que a justiça, mais cedo ou mais tarde se fará notar, mas até lá, muitos gastam o seu tempo a falar dos mesmos erros, enquanto alguns se fazem surdos…
Na quarta passa, desejo que, tal como refere o texto de Wilhelm Reich, Escuta “Zé Ninguém” a que alude o nosso ilustre Blogista: “O grande homem é, pois, aquele que reconhece quando e em que é pequeno. O homem pequeno é aquele que não reconhece a sua pequenez e teme reconhecê-la; que procura mascarar a sua tacanhez e estreiteza de vistas com ilusões de força e grandeza, força e grandeza alheias…” os homens se transformem em Grandes Homens.
Podia continuar a formular desejos, ate porque, ainda só vou na quarta passa, mas cansei-me e de repente de uma só vez, juntei-as todas e desejei com fervor que mudasse o imutável, mudasse aquilo que enquistou num poder faraónico, déspota que trai a democracia, a liberdade de expressão a negociação, a auscultação daqueles que dizem representar e por quem dizem zelar e que, depois de estar no poder se esquecem daqueles que os elegeram. Assim e para acabar com os meus desejos e, ainda poder acreditar que Ano Novo é Vida Nova, desejar vivamente que alguns ainda consigam dizer com discernimento o que pensam e no que acreditam, para fazer valer o provérbio que diz “água mole em pedra dura tanta bate que fura”
Espero e desejo para todos que Ano Novo seja mesmo Vida Nova…

1:18 da manhã WET  

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