sexta-feira, setembro 28, 2007

O olhar de Manuel Magalhães sobre o Europeu Junior/Senior em França


Agora temos a perspectiva do treinador Manuel Magalhães. Muito Obrigado Manel! Um grande bem haja.

Aqui vai:


1- Como eram as instalações o piso e a organização?

M.M. - A cidade de Gujan-Mestras era uma cidade pequena e bastante acolhedora. O pavilhão situava-se numa zona calma e agradável. Apesar de ser um pavilhão pequeno com bancadas só de um lado, o ringue não era mau e a envolvência do pavilhão tinha jardins e um bom espaço com barracas onde se podia comer e com todo o tipo de material para a prática da patinagem artística como é habitual nos campeonatos europeus com uma boa organização. A organização foi boa e cuidadosa.

2- Quem está de fora fica com a sensação que a França está a fazer um grande investimento na patinagem artística. Isto é verdade? Qual a tua opinião sobre a forma e o caminho que os franceses estão a percorrer? Haverá algumas lições a tirar dos franceses?

M.M. - É, de facto, uma realidade. A França começou a perder terreno há alguns anos atrás e, de certa forma, notou-se uma preocupação em alterar essa tendência. Penso que fizeram algumas alterações estruturais e neste momento os resultados começam a surgir, não só nos escalões mais novos, mas também com um campeão da Europa já em júnior, Frederic Garcia. Noto uma forma de estar e de trabalhar um pouco mais organizada, mais séria e mais preocupada em toda a equipa francesa. É, ainda, um caminho inicial mas que começa a fazer-se notar.

3- Este campeonato foi diferente do habitual porque houve países (por exemplo a Alemanha) que não participaram. O que se passou? Estamos perante uma guerrilha entre países ou entre um país e a CEPA?

M.M. - A não participação da Alemanha deveu-se mais a uma guerrilha entre um pais e a CEPA. Pelo que constou a Alemanha não estaria contente com a data do campeonato e já o teria alertado no ano anterior. A CEPA nada fez, a meu ver mal, pois deveria promover a união na nossa modalidade, e o resultado foi a ruptura.

4- Os níveis técnico e artístico apresentados no campeonato foram baixos/médios/altos? Que atleta ou par se destacou pela positiva? e pela negativa?

M.M. - O nível técnico na globalidade foi, sem dúvida, o mais baixo que eu já alguma vez assisti num campeonato europeu. Não só o número de atletas foi reduzido como o seu nível foi muito baixo. A nível individual sénior (masculino e feminino) assistiu-se a provas com muitas falhas e um pouco decepcionantes, dança júnior a participação era muito reduzida e individuais juniores masculinos o nível foi claramente mais baixo que o do ano anterior em Monza. Um pouco melhor que Monza vi as juniores femininos com a participação da campeã do mundo e da europa do ano anterior assistindo-se a provas com triplos completos e a dança sénior que teve uma boa participação em termos de número e qualidade, onde os espanhóis começam a marcar terreno mais uma vez.

5- A selecção portuguesa esteve bem? Ainda fomos penalizados?

M.M. - A selecção portuguesa portou-se muito bem e penso que estão todos de parabéns, sem excepção. Pena foi a falta de visão no que compreende a não ida do nosso par de dança sénior Luísa Costa/Filipe Sereno que nos podiam ter brindado com uma classificação interessante… Aqui fomos bastante penalizados!

6- Qual a maior diferença que se sente entre a nossa patinagem e a dos países mais desenvolvidos?

M.M. - A maior não sei dizer… mas as maiores talvez serei capaz de arriscar. Falta de organização técnica e directiva, falta de cooperação entre treinadores e todos os intervenientes da patinagem, falta de objectivos, falta de ambição, falta de continuidade de propósitos, falta de coerência, falta de transparência… Enfim, a felicidade do deixa andar em cima dos patins. A nível técnico o que mais sobressai dentro do ringue nos atletas é a falta de limpeza e uma heterogeneidade incompreensível na escola portuguesa (escola?).

7- Do teu ponto de vista, temos (Portugal) desenvolvido ou estagnamos?

M.M. - Nem uma coisa nem outra. Regredimos! Essa é a palavra certa. Não o digo de cor mas sim tendo em conta a evolução dos resultados obtidos por Portugal… ou melhor, pelos atletas e seus treinadores (digo isto pois, continuo a achar que em Portugal se trabalha de costas viradas e sem apoios). Basta olhar para trás e ver que anos como o de Vigo com 4 podiums de 1º lugar e tantos outros anos com sucesso são agora um passado sem perspectivas de repetição futura. Não há plano (ou pelo menos não é de meu conhecimento) para um futuro brilhante na nossa patinagem.

8- Há algum aspecto que merece ser falado e que não foi abordado nas perguntas efectuadas?

M.M. - Muitas mais coisas se poderiam falar… A patinagem artística em Portugal carece de cuidados intensivos!.


Agradeço ao Manuel Magalhães as suas acutilantes palavras. Até breve
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