segunda-feira, setembro 17, 2007

O olhar de Liliana Andrade sobre o Europeu em França


Gentilmente a Atleta internacional, sénior, Liliana Andrade (terceira classificada em Figuras Obrigatórias e no Combinado neste europeu) respondeu ao nosso questionário.
Muito Obrigado Liliana! E muitos Parabéns.

A tua dedicação e o teu trabalho como atleta, ao longo destes anos, transformou-te numa das maiores referências na patinagem artística em Portugal. Tens-nos dado muitas alegrias, por isso continua.

A Liliana na primeira pessoa:

1- Como foi a viagem? As instalações do pavilhão eram boas (balneários, etc.), o piso e a organização?
LILIANA - A viagem correu bem. Foi um pouco cansativa pois foram cerca de 16 horas, no entanto, o autocarro tinha boas condições e éramos apenas 17 pessoas em 50 lugares, havia muito espaço e conseguimos dormir praticamente toda a viagem.
Quanto às instalações dentro do pavilhão não eram as melhores. Os balneários eram muito pequenos e não havia espaço nenhum para aquecer, por isso todos os atletas faziam o aquecimento no campo relvado da parte de fora do pavilhão. Apesar do pavilhão ser pequeno, encontrava-se num sítio bastante agradável e o piso, na minha opinião, era bom. Não escorregava e permitia patinar com velocidade, por isso não houve dificuldades na adaptação.
A organização em termos de horários foi boa, não houve atrasos e os treinos e provas começaram sempre às horas programadas. Quanto à alimentação, havia um restaurante da organização, mas a comida não era muito boa, por isso fomos almoçar e jantar algumas vezes ao restaurante perto do hotel. Nesta organização falhou a parte do transporte, pois tinham dito que havia transporte para os atletas durante o dia e depois acabou por não haver, por isso tivemos que nos deslocar sempre no nosso autocarro, mas acabou por correr tudo bem.

2- Quem está de fora fica com a sensação que a França está a fazer um grande investimento na patinagem artística. Isto é verdade? Qual a tua opinião sobre a forma e o caminho que os franceses estão a percorrer? Haverá algumas lições a tirar dos franceses?
LILIANA - Sim, a França está a melhorar, notando-se principalmente a sua evolução nos escalões mais jovens. Sei que estão a investir em estágios com alguns treinadores italianos e também investem grandemente numa participação frequente a nível de provas internacionais (Taça da Alemanha, taça de Itália, etc.).
Quanto ao resto, a forma como se organizam e como trabalham internamente não posso falar pois não tenho conhecimento.

3- Este campeonato foi diferente do habitual porque houve países (por exemplo a Alemanha) que não participaram. O que se passou? Estamos perante uma guerrilha entre países ou entre um país e a CEPA? Sentiu-se a falta dos outros países? O que ouviste dizer? A modalidade ficou mais pobre com a não participação desses países?
LILIANA - Aquilo que me disseram foi que a Alemanha não participava neste campeonato porque não concordava com a data. Queriam que fosse mais tarde, primeiro porque nessa altura ainda estão em aulas e depois porque tinham o campeonato nacional nessa mesma data. Se existe ou não mais algum problema eu não sei, mas penso que não.
Sentiu-se bastante a falta dos alemães principalmente nas provas de figuras obrigatórias. Pois eles são uma selecção forte e que participa sempre com muitos atletas.

4- Na tua opinião, os níveis técnico e o artístico apresentados no campeonato foram baixos/médios/altos? Que atleta ou par se destacou pela positiva? E pela negativa?
LILIANA - Na minha opinião, os níveis técnico e artístico deste campeonato, em geral, foram altos.
Em seniores femininos e dança, tanto a qualidade quanto a quantidade tiveram um nível alto. Notou-se a falta da campeã do mundo Tanja Romano e também, apesar dos 3 pares italianos terem ocupado os 3 lugares de topo, sentiu-se a falta dos três melhores pares deste país que vão directamente ao mundial.
Em juniores, o nível de qualidade também foi alto, notando-se a falta do campeão do mundo Marco Santucci, no entanto em relação á quantidade o nível foi baixo, pois em nenhuma das provas deste escalão se atingiu o número de 10 participantes. O que é um pouco preocupante, uma vez que seria normal os escalões mais jovens terem um maior número de atletas. Inclusivamente, os italianos falavam nas bancadas que a resolução deste problema passava por aumentar o número permitido de atletas por país (+ de 3), o que não seria nada favorável para todos os outros países.
A maior diferença de nível em relação a anos anteriores notou-se principalmente nos seniores masculinos, prova que é sempre o momento alto do campeonato, a prova que todos querem ver, onde há sempre mais público, mais aplausos, mais espectáculo. Nesta prova sim, notou-se uma grande diferença de nível por falta de atletas como Luca D’alisera, Roberto Riva, Frank Albiez, Manuel Magalhães, Andrea Barbieri, etc.
Sentiu-se um grande vazio, no momento em que chamaram para prova os seniores masculinos e não se ouviu nenhum destes nomes...

Quanto ao destaque pela positiva, para mim, todos os atletas portugueses se destacaram pela positiva, pois em geral as provas correram bem e sempre que alguma coisa não corria tão bem, todos mostravam uma grande garra para recuperar, lutando até ao fim. Foi fantástico, ver todos os portugueses darem o máximo até ao último segundo do campeonato, fosse em prova ou nas bancadas a puxar pelos colegas da selecção.

Negativo foi o facto da espanhola Laura Sanchez mais uma vez deixar escapar o ouro. Com a ausência da Tanja Romano, tinha o caminho livre e apesar de ter recuperado no programa longo mais uma vez não conseguiu triunfar. Era sem dúvida alguma a melhor.

5- A selecção portuguesa esteve bem ? Ainda fomos penalizados?
LILIANA - Como já disse, a selecção portuguesa esteve muito bem.
Foi a selecção que alcançou o maior número de medalhas num campeonato europeu e mesmo aqueles que não chegaram as medalhas fizeram muito boa figura e lutaram sempre até ao fim, isso é muito bom, muito importante e tem muito significado para a modalidade no nosso país.


6- Qual a maior diferença que se sente entre a nossa patinagem e a dos países mais desenvolvidos?
LILIANA - Sinceramente, neste momento, relativamente aos atletas que integram a selecção nacional, não se sente grande diferença comparativamente com os atletas dos países ditos mais desenvolvidos.
A Itália continua a ter muita força e sem dúvida continua a ser a grande potência da patinagem, no entanto em relação aos outros países já não se vê diferenças como antigamente. Nomeadamente neste campeonato, em todas as provas que participaram atletas portugueses, competimos de igual para igual para os lugares de topo.



7- Do teu ponto de vista, temos (Portugal) desenvolvido ou estagnamos?
LILIANA - Sem dúvida alguma que com muito esforço e dedicação de todos temos desenvolvido, principalmente nos últimos dez anos, no entanto, é essencial continuar a trabalhar muito, pois temos atletas com muito talento no nosso país que podem fazer e alcançar ainda muito mais.

8- Há algum aspecto que merece ser falado e que não foi abordado nas minhas perguntas efectuadas?
LILIANA - Não, nada mais a acrescentar. Em geral, correu tudo muito bem.

Mais uma vez agradecemos à Liliana Andarde as suas esclarecedoras palavras. Até breve.
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