sexta-feira, setembro 28, 2007

O olhar de Manuel Magalhães sobre o Europeu Junior/Senior em França


Agora temos a perspectiva do treinador Manuel Magalhães. Muito Obrigado Manel! Um grande bem haja.

Aqui vai:


1- Como eram as instalações o piso e a organização?

M.M. - A cidade de Gujan-Mestras era uma cidade pequena e bastante acolhedora. O pavilhão situava-se numa zona calma e agradável. Apesar de ser um pavilhão pequeno com bancadas só de um lado, o ringue não era mau e a envolvência do pavilhão tinha jardins e um bom espaço com barracas onde se podia comer e com todo o tipo de material para a prática da patinagem artística como é habitual nos campeonatos europeus com uma boa organização. A organização foi boa e cuidadosa.

2- Quem está de fora fica com a sensação que a França está a fazer um grande investimento na patinagem artística. Isto é verdade? Qual a tua opinião sobre a forma e o caminho que os franceses estão a percorrer? Haverá algumas lições a tirar dos franceses?

M.M. - É, de facto, uma realidade. A França começou a perder terreno há alguns anos atrás e, de certa forma, notou-se uma preocupação em alterar essa tendência. Penso que fizeram algumas alterações estruturais e neste momento os resultados começam a surgir, não só nos escalões mais novos, mas também com um campeão da Europa já em júnior, Frederic Garcia. Noto uma forma de estar e de trabalhar um pouco mais organizada, mais séria e mais preocupada em toda a equipa francesa. É, ainda, um caminho inicial mas que começa a fazer-se notar.

3- Este campeonato foi diferente do habitual porque houve países (por exemplo a Alemanha) que não participaram. O que se passou? Estamos perante uma guerrilha entre países ou entre um país e a CEPA?

M.M. - A não participação da Alemanha deveu-se mais a uma guerrilha entre um pais e a CEPA. Pelo que constou a Alemanha não estaria contente com a data do campeonato e já o teria alertado no ano anterior. A CEPA nada fez, a meu ver mal, pois deveria promover a união na nossa modalidade, e o resultado foi a ruptura.

4- Os níveis técnico e artístico apresentados no campeonato foram baixos/médios/altos? Que atleta ou par se destacou pela positiva? e pela negativa?

M.M. - O nível técnico na globalidade foi, sem dúvida, o mais baixo que eu já alguma vez assisti num campeonato europeu. Não só o número de atletas foi reduzido como o seu nível foi muito baixo. A nível individual sénior (masculino e feminino) assistiu-se a provas com muitas falhas e um pouco decepcionantes, dança júnior a participação era muito reduzida e individuais juniores masculinos o nível foi claramente mais baixo que o do ano anterior em Monza. Um pouco melhor que Monza vi as juniores femininos com a participação da campeã do mundo e da europa do ano anterior assistindo-se a provas com triplos completos e a dança sénior que teve uma boa participação em termos de número e qualidade, onde os espanhóis começam a marcar terreno mais uma vez.

5- A selecção portuguesa esteve bem? Ainda fomos penalizados?

M.M. - A selecção portuguesa portou-se muito bem e penso que estão todos de parabéns, sem excepção. Pena foi a falta de visão no que compreende a não ida do nosso par de dança sénior Luísa Costa/Filipe Sereno que nos podiam ter brindado com uma classificação interessante… Aqui fomos bastante penalizados!

6- Qual a maior diferença que se sente entre a nossa patinagem e a dos países mais desenvolvidos?

M.M. - A maior não sei dizer… mas as maiores talvez serei capaz de arriscar. Falta de organização técnica e directiva, falta de cooperação entre treinadores e todos os intervenientes da patinagem, falta de objectivos, falta de ambição, falta de continuidade de propósitos, falta de coerência, falta de transparência… Enfim, a felicidade do deixa andar em cima dos patins. A nível técnico o que mais sobressai dentro do ringue nos atletas é a falta de limpeza e uma heterogeneidade incompreensível na escola portuguesa (escola?).

7- Do teu ponto de vista, temos (Portugal) desenvolvido ou estagnamos?

M.M. - Nem uma coisa nem outra. Regredimos! Essa é a palavra certa. Não o digo de cor mas sim tendo em conta a evolução dos resultados obtidos por Portugal… ou melhor, pelos atletas e seus treinadores (digo isto pois, continuo a achar que em Portugal se trabalha de costas viradas e sem apoios). Basta olhar para trás e ver que anos como o de Vigo com 4 podiums de 1º lugar e tantos outros anos com sucesso são agora um passado sem perspectivas de repetição futura. Não há plano (ou pelo menos não é de meu conhecimento) para um futuro brilhante na nossa patinagem.

8- Há algum aspecto que merece ser falado e que não foi abordado nas perguntas efectuadas?

M.M. - Muitas mais coisas se poderiam falar… A patinagem artística em Portugal carece de cuidados intensivos!.


Agradeço ao Manuel Magalhães as suas acutilantes palavras. Até breve

quarta-feira, setembro 26, 2007

O olhar de Pedro Mourinho Guerreiro sobre o Europeu em Espanha


Relativamente ao Europeu de Cadetes e Juvenis (Cerdanyola - Espanha, de 11.09. a 15.09.2007) igualmente enderecei um conjunto de perguntas, através de mail, para os treinadores (penso que para todos) presentes no campeonato.
O primeiro a responder foi o Pedro Mourinho Guerreiro. Pedro o meu muito obrigado.

Aqui ficam as perguntas e as interessantíssimas respostas dele. Mais uma vez agradeço-lhe a disponibilidade e a prontidão nas respostas.

1- Como foi a viagem? As instalações do pavilhão eram boas (balneários, etc.), o piso e a organização? Pelos vistos as entradas eram caras, os treinadores tiveram que pagar?

P.M.G - A minha viagem foi de Lisboa até Cerdanyola, partimos as 6 da manha de Domingo e chegamos as 20:00, hora Espanhola. Só tivemos alguma dificuldade à chegada a Cerdanyola, visto que fiquei sem bateria no GPS e não tinha outra forma de orientação. Teve de ser mesmo com a ajuda dos locais. Foi um pouco cansativa, mas temos de fazer alguns esforços para retirar algum custo com as despesas, pois são os pais que suportam as minhas despesas.
O envio tardio das convocatórias definitivas torna bastante complicado a confirmação dos apoios de empresas e órgãos públicos da região onde a atleta se insere. Normalmente com a boa vontade de todos, esses apoios vêm à posteriori.
O piso era de cimento, como quase todos em Espanha, vinha informado que era um piso abrasivo, pelo que nos preparamos o melhor possível para essas condicionantes.
A organização foi eficiente e competente sem grandes luxos, mas sem que faltasse nada. As entradas eram caras, vindo acrescentar mais alguma despesa aos pais que já de si tinham orçamentos limitados. Os treinadores não pagaram nada, uma vez que foram credenciados pela FPP.
O atraso do transfer do aeroporto para o hotel que transportava os nossos atletas e dirigentes, fez com que Portugal não pudesse estar presente nos sorteios iniciais e também causou um pouco de confusão no primeiro dia de treinos com tanto atletas como treinadores a lhes serem perguntado pelas respectivas credenciações, mas a organização teve a latitude suficiente para deixar entrar toda a gente com a promessa de que se trataria logo de seguida da respectiva credenciação de todos.

2- A Espanha está a fazer um grande investimento na patinagem artística. Concordas com esta afirmação?

P.M.G - A Espanha tem vindo a fazer algum investimento em formação de novos treinadores, e de novos atletas, o primeiro programa de jovens talentos de Espanha que culminou com a geração que hoje em dia são Juniores e Seniores, são a face visível desse trabalho.
Pensou-se em Espanha que a formação que se tinha dado tanto a treinadores como a atletas seria suficiente para que a Espanha continuasse na senda dos bons resultados por si só, mas rapidamente chegaram à conclusão de que uma nova etapa dos jovens talentos seria necessário para revitalizar os escalões mais jovens que estavam a perder espaço para os Italianos e Alemães.
Assim sendo, um novo investimento em dois treinadores de inegável valor, como são Paolo Colombo e Leonardo Leinhard. Nesse trabalho, segundo fui sendo informado pelos meus colegas treinadores de Espanha, o contacto directo com os treinadores que depois nos seus clubes, desenvolvem o trabalho diário e contínuo, é o mais importante para o desenvolvimento técnico de toda a escola Espanhola.
Para além disso, foi delegado na Rosa Gomes Pey, a responsabilidade do desenvolvimento das regiões menos fortes de Espanha, tentando assim, estrutura-las e aproxima-las das outras regiões mais desenvolvidas. Para além deste investimento que se pode dizer estrutural, há ainda uma grande dinâmica de intercâmbios entre os clubes e regiões de Espanha, com constantes torneios e troféus que provome não só o convívio e troca de experiências entre todos os agentes desportivos, como aumenta o índice competitivo delineando momentos de competição quase todos os meses do ano.

3- Na tua opinião, qual é o caminho que os espanhóis estão a percorrer? Haverá algumas lições a tirar dos espanhóis? Que lições?

P.M.G - Eu tenho o privilégio de contactar regularmente com vários treinadores desta nova geração Espanhola, são a seguir aos colegas Italianos a minha maior referencia enquanto estruturação do meu trabalho.
Eles são muito unidos, se há um torneio numa certa data e região, os atletas de outro treinador vai a este torneio e treina com o colega local com a maior naturalidade, comunicam entre eles todas as suas dificuldades e conquistas.
Isso é uma forma de estar no desporto que me agrada imenso.
Mas nem tudo está bem em Espanha, também são críticos sobre alguns processos estruturais. A maior diferença provavelmente é que eles têm da parte organizadora do desporto em Espanha, um espaço e um local para exporem as suas questões e os seus anseios.
Ainda gostava de evidenciar que a maior parte destes treinadores jovens como por exemplo, Clemente, Abert, Manuel, Nuria, etc, não são profissionais, quase todos eles têm outra profissões, portanto com isto quero dizer que as diferenças não estão nas mitológicas falta de horas de treino, ou na falta de tempo dos agentes envolvidos.

4- Na tua opinião, os níveis técnico e o artístico apresentados neste campeonato foram baixos/médios/altos? Que atleta ou par ou país se destacou pela positiva? E pela negativa?

P.M.G - Com relação com os níveis técnicos e artísticos, há que por sempre em perspectiva que estávamos num campeonato de Cadetes e Juvenis, pelo que me pareceu que tecnicamente foi um campeonato muito forte com muitos atletas de vários países a demonstrar níveis de prestação competitiva muito acima do que é o "normal" para estes escalões.
Ao nível artístico, embora se veja que falta a maturidade que vem com a idade e a experiência, forma apresentadas algumas performances muito boas, principalmente nos pares de dança, mistos e femininos.
Por outro lado, a melhor competição foi sem dúvida a de Juvenis masculinos onde os 2 primeiros classificados apresentaram todos os triplos completos com alguma facilidade e o 3 também não está muito longe.
Como dizia o comissário técnico italiano, o futuro evolutivo da patinagem artística está garantido.
Eu não consigo destacar ninguém em particular ou colectivamente pela negativa, acho que mesmo países com menos tradições nestas competições internacionais, honraram os seus países patinando no melhor das suas capacidades, e portanto quando é assim têm de sair do campeonato de cabeça erguida e trabalhar para ser ainda melhor no próximo ano.

5- A selecção portuguesa esteve bem? Houve penalizações? Quem foi o juiz português? Como foi a sua actuação?

P.M.G - Eu penso que a selecção portuguesa esteve no geral em boa forma, mas com os picos altos e baixos que caracterizam as performances dos nossos atletas.
Quando conseguirmos pautar a semana competitiva pelo melhor que cada individuo demonstra ser capaz de fazer, então teremos seguramente muito mais com que nos alegrar.
Não penso que tenha havido penalizações por falta de cumprimento das regras que todos demonstraram conhecer.
Quanto ao juiz português não desejo tecer qualquer comentário.
Só gostava de deixar uma nota que me entristece muito que se continue a ver que cada juiz está mais empenhado em valorizar o seu atleta que em ajuizar patinagem artística, mas isto não é um problema do nosso juiz, bem pelo contrário, é um problema do nosso desporto internacionalmente. Mexe com a credibilidade que julgamos ter direito mas que depois não agimos em conformidade.

6- Nestes escalões verifica-se alguma diferença entre a nossa patinagem e a dos outros países (mais desenvolvidos)?
P.M.G - As diferenças são notórias. Itália, Eslovénia, Espanha e Alemanha, apresentam níveis técnicos e artísticos muito superiores aos nossos. Isto numa apreciação global, enquanto escolas de patinagem.
Alguns dos nossos atletas acabam por fazer diminuir estas diferenças pelo seu crer, pela sua capacidade de luta momentânea, mas a longo prazo mentiria se não estivesse preocupado com o rumo que a patinagem portuguesa está a levar.
Levamos mais tempo a discutir quem vai e ao quê que a preparar e a competir.

7- Do teu ponto de vista, temos (Portugal) desenvolvido ou estagnamos? Do ponto de vista de treinador do atleta que participou o que é que correu bem e o menos bem?
P.M.G.- Eu quero acreditar que temos desenvolvido de uma forma descontinuada, ou seja, não temos sustentação para o desenvolvimento de grandes atletas como fora a Rita Falcão, Liliana Andrade, Diana Ribeiro, Manuel Magalhães, Marta Ferreira, Hugo Chapouto/Vanessa Costa (peço desculpa se me esqueci de alguém).
O que quero dizer com isto é que andamos com estes atletas ao colo, e descuramos o que vem a seguir, se só a estes e mais alguns lhes damos a entender que estamos a olhar para eles, então quando estes acabarem de dar os seus frutos e olharmos para trás não temos lá ninguém.
Não é que não temos nenhum valor, pior que isso, não temos mesmo ninguém interessado em competir com este nível de exigência.
Os processos de representatividade, continuam a tecer tantas observações que volto a reforçar esta ideia, depois não nos dedicamos ao processo de preparação de uma forma regular e sustentabilizada.
Particularmente a minha atleta teve um dia mágico, mas a pressão imposta em todo o processo para chegar a competição acabou por condicionar a prestação nos outros dias que foram a maioria. Estamos numa fase de desenvolvimento da personalidade e da postura competitiva importantíssima e portanto nesta fase pos-competição teremos de conversar muito sobre as formas e os meios que utilizamos para nos preparar para competir.

8- Haverá algum modelo, ou alguma estrutura que deveremos tentar adaptar à realidade portuguesa?
P.M.G - A minha opinião é que esta conversa da estruturação é se calhar aquela que mais colegas treinadores reivindicam como sendo a que faz a diferença entre nós e os outros mais fortes. E fazem-na muito bem, pois acho que é um ponto essencial.
Eu não acho que o problema dos treinadores portugueses seja uma questão de desconhecimento técnico. Não o acho agora como não o achava à 10 anos atrás.
Em conversas com vários treinadores italianos que pontualmente têm trabalhado com treinadores portugueses com atletas na selecção nacional portuguesa, o que eles apontam quando se falam das lacunas das prestações dos atletas portugueses, é para a falta de rigor na implementação das técnicas, falta de personalidade (vemos um atleta da Sara Locandro e reconhecemo-lo imediatamente, vemos um atleta do Gabrielle Quirini e identificamo-lo imediatamente) e também a falta de programação a longo prazo.
Ora este último ponto é o mais difícil para mim, pois independentemente da minha programação particular, há sempre demasiados imponderáveis que vão surgindo que condicionam e desestabilizam os atletas, principalmente contribuindo para um aumentar da pressão sentida por estes.
Pressão negativa, bem entendido, porque a pressão competitiva, não só é benéfica como pode ser um meio de prazer.

9- A formação em Portugal é, como alguém diz, das melhores que existe? Ou será apenas uma visão egocêntrica de quem pouco fez – a este nível - pela modalidade e já reclama vitória?
P.M.G - A formação em Portugal é o que cada um de nós faz cada dia que vai orientar um treino.
Se cada um o fizer com qualidade e rigor será um bom dia para a Patinagem Artística no nosso País, se por outro lado ficarmos em casa ou sentados na vedação a pensar na próxima frase brilhante que vamos lançar, então será um mau dia para a Patinagem Portuguesa.

10- Há algum aspecto que merece ser falado e que não foi abordado nas perguntas apresentadas?
P.M.G - Gostava de referir o empenho e a dedicação com que algumas Autarquias do nosso País têm posto ao serviço do desporto, muitas vezes substituindo aquilo que é o dever do estado e das organizações federativas. Digo isto com conhecimento de causa.
A FPP tem nos últimos anos descorado completamente a preparação dos atletas e respectivos treinadores da patinagem artística.
Poderá ser por imposições orçamentais, poderá ser por falta de quem chame a si a organização dos mesmos, o que é certo é que vemos multiplicados estágios de preparação em outras modalidades da mesma casa e na patinagem só vemos visionamentos que têm a tal pressão negativa do "Big Brother Is Watching You".
Não estou com isto a dizer que deveria esta entidade chamar a si a preparação efectiva dos atletas, mas deveria isso sim de criar condições de interacção de uma forma global ou regional, de acordo com um planeamento previamente definido.
Treinos como fazemos nos estágios regionais de Lisboa com treinadores internacionais a supervisionar, ou não, seriam a melhor solução de haver intercambio, convívio e fomento do espírito de equipa, que tanta falta faz aos nossos miúdos.
Devemos ser a única selecção regularmente em competições internacionais que não tem os seus cânticos próprios. Pode ser um factor menor, de certeza que o é, mas também é um sinal que o tempo que eles passam uns com os outros em convívio aberto é nulo.
É também neste tipo de acção que os atletas mais velhos contam aos mais novos o seu passado, as suas vivências, isto porque às tantas estes miúdos pensam que a Patinagem Artística começou em Portugal no dia em que eles começaram a entrar nestas coisas.

Reitera-se os agradecimentos ao Pedro pelas suas esclarecidas e pertinentes palavras. Até breve.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Falecimento

É com profunda consternação que se informa que hoje, dia 21 de Setembro de 2007, faleceu a mãe de uma amiga, Helena Paula Lomba Viana, Juiz Internacional e Ex-Presidente do Conselho Nacional de Juízes e Calculadores de Patinagem Artística da FPP.
O corpo encontra-se em câmara ardente na Capela Mortuária do Hospital Militar da Região Nº 1, sita na Avenida Boavista, no Porto, e o funeral realiza-se amanhã, dia 22 de Setembro, com saída às 10H00 para o cemitério de Agramonte.

À Família enlutada as nossas mais sentidas condolências.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Incompatibilidade de funções de Treinador/Seleccionador

O presente blog é um espaço de reflexão, mas também de denúncia. Porque não dizê-lo...
Tenho acompanhado esta verdadeira novela que é a escolha dos atletas para a Taça.

Por essa razão, não posso deixar de registar, mais uma vez, a perfeita falta de idoneidade nos métodos de escolha dos atletas para esta Taça. Agora parece que "vale tudo menos arrancar olhos"...

Quando as coisas eram feitas às escuras (isto é, quando a CT nacional apenas fazia o que ficou escrito em comunicado, ou seja: fazer um livro, fazer um DVD e uniformizar técnicas) as coisas ainda davam para disfarçar (mal é certo).

Agora quando, publicamente, assumem (sem que alguém lhes tenha dado esses poderes) que são eles quem selecciona os mais jovens. As coisas naturalmente mudam de figura...
Ora, vejamos:
Para se poder ajuizar uma prova enquanto Juiz, com objectividade e isenção desejáveis, não se pode ser Treinador com atletas em prova. Este príncipio é óbvio...

Tal princípio justifica-se por questões relacionadas com os valores morais, dos bons costumes, da Verdade Desportiva e da Luta Contra a Corrupção no Desporto, etc. .
Mas este princípio, pelos vistos não é aplicável a quem selecciona ou que exerça funções algo semelhantes à de seleccionador.
Só mesmo em Portugal:
o treinador do clube (ou de dois clubes, não interessa) acumula funções na federação como seleccionador (ou algo semelhante) e escolhe os atletas do seu clube em detrimento dos campeões nacionais. É o quero posso e mando...

Tal como à mulher de César, não basta sê-lo é necessário parecê-lo!
Aqui aquele Princípio (em defesa dos valores morais, dos bons costumes, da Verdade Desportiva e da Luta Contra a Corrupção no Desporto) já não vale?


No caso de se cumular funções, pode o Treinador/Seleccionador ser objectivo?

Será ele (enquanto pessoa que selecciona) imparcial quando tem os seus atletas em jogo?
Tem ou não ele manifesto interesse na escolha (quando estão em causa os seus atletas, do seu clube)?

A resposta parece ser óbvia: não pode ser imparcial!! Como não o foram...aliás.

Até um cego vê que esse Seleccionador/Treinador tem um ENORME INTERESSE.
Tem manifestamente falta de idoneidade na escolha. Não será isto uma forma de corromper a Verdade Desportiva? O que mais estranho é isto acontecer e ninguém dizer nada...
Depois, ficam todos revoltados quando se diz que a federação tornou-se numa coutada de certos caçadores?
Há aqui claramente incompatibilidade de funções. Só não vê quem não quer... quem não tem vergonha do que se está a passar.
Voltamos a bater no fundo.

O olhar de Liliana Andrade sobre o Europeu em França


Gentilmente a Atleta internacional, sénior, Liliana Andrade (terceira classificada em Figuras Obrigatórias e no Combinado neste europeu) respondeu ao nosso questionário.
Muito Obrigado Liliana! E muitos Parabéns.

A tua dedicação e o teu trabalho como atleta, ao longo destes anos, transformou-te numa das maiores referências na patinagem artística em Portugal. Tens-nos dado muitas alegrias, por isso continua.

A Liliana na primeira pessoa:

1- Como foi a viagem? As instalações do pavilhão eram boas (balneários, etc.), o piso e a organização?
LILIANA - A viagem correu bem. Foi um pouco cansativa pois foram cerca de 16 horas, no entanto, o autocarro tinha boas condições e éramos apenas 17 pessoas em 50 lugares, havia muito espaço e conseguimos dormir praticamente toda a viagem.
Quanto às instalações dentro do pavilhão não eram as melhores. Os balneários eram muito pequenos e não havia espaço nenhum para aquecer, por isso todos os atletas faziam o aquecimento no campo relvado da parte de fora do pavilhão. Apesar do pavilhão ser pequeno, encontrava-se num sítio bastante agradável e o piso, na minha opinião, era bom. Não escorregava e permitia patinar com velocidade, por isso não houve dificuldades na adaptação.
A organização em termos de horários foi boa, não houve atrasos e os treinos e provas começaram sempre às horas programadas. Quanto à alimentação, havia um restaurante da organização, mas a comida não era muito boa, por isso fomos almoçar e jantar algumas vezes ao restaurante perto do hotel. Nesta organização falhou a parte do transporte, pois tinham dito que havia transporte para os atletas durante o dia e depois acabou por não haver, por isso tivemos que nos deslocar sempre no nosso autocarro, mas acabou por correr tudo bem.

2- Quem está de fora fica com a sensação que a França está a fazer um grande investimento na patinagem artística. Isto é verdade? Qual a tua opinião sobre a forma e o caminho que os franceses estão a percorrer? Haverá algumas lições a tirar dos franceses?
LILIANA - Sim, a França está a melhorar, notando-se principalmente a sua evolução nos escalões mais jovens. Sei que estão a investir em estágios com alguns treinadores italianos e também investem grandemente numa participação frequente a nível de provas internacionais (Taça da Alemanha, taça de Itália, etc.).
Quanto ao resto, a forma como se organizam e como trabalham internamente não posso falar pois não tenho conhecimento.

3- Este campeonato foi diferente do habitual porque houve países (por exemplo a Alemanha) que não participaram. O que se passou? Estamos perante uma guerrilha entre países ou entre um país e a CEPA? Sentiu-se a falta dos outros países? O que ouviste dizer? A modalidade ficou mais pobre com a não participação desses países?
LILIANA - Aquilo que me disseram foi que a Alemanha não participava neste campeonato porque não concordava com a data. Queriam que fosse mais tarde, primeiro porque nessa altura ainda estão em aulas e depois porque tinham o campeonato nacional nessa mesma data. Se existe ou não mais algum problema eu não sei, mas penso que não.
Sentiu-se bastante a falta dos alemães principalmente nas provas de figuras obrigatórias. Pois eles são uma selecção forte e que participa sempre com muitos atletas.

4- Na tua opinião, os níveis técnico e o artístico apresentados no campeonato foram baixos/médios/altos? Que atleta ou par se destacou pela positiva? E pela negativa?
LILIANA - Na minha opinião, os níveis técnico e artístico deste campeonato, em geral, foram altos.
Em seniores femininos e dança, tanto a qualidade quanto a quantidade tiveram um nível alto. Notou-se a falta da campeã do mundo Tanja Romano e também, apesar dos 3 pares italianos terem ocupado os 3 lugares de topo, sentiu-se a falta dos três melhores pares deste país que vão directamente ao mundial.
Em juniores, o nível de qualidade também foi alto, notando-se a falta do campeão do mundo Marco Santucci, no entanto em relação á quantidade o nível foi baixo, pois em nenhuma das provas deste escalão se atingiu o número de 10 participantes. O que é um pouco preocupante, uma vez que seria normal os escalões mais jovens terem um maior número de atletas. Inclusivamente, os italianos falavam nas bancadas que a resolução deste problema passava por aumentar o número permitido de atletas por país (+ de 3), o que não seria nada favorável para todos os outros países.
A maior diferença de nível em relação a anos anteriores notou-se principalmente nos seniores masculinos, prova que é sempre o momento alto do campeonato, a prova que todos querem ver, onde há sempre mais público, mais aplausos, mais espectáculo. Nesta prova sim, notou-se uma grande diferença de nível por falta de atletas como Luca D’alisera, Roberto Riva, Frank Albiez, Manuel Magalhães, Andrea Barbieri, etc.
Sentiu-se um grande vazio, no momento em que chamaram para prova os seniores masculinos e não se ouviu nenhum destes nomes...

Quanto ao destaque pela positiva, para mim, todos os atletas portugueses se destacaram pela positiva, pois em geral as provas correram bem e sempre que alguma coisa não corria tão bem, todos mostravam uma grande garra para recuperar, lutando até ao fim. Foi fantástico, ver todos os portugueses darem o máximo até ao último segundo do campeonato, fosse em prova ou nas bancadas a puxar pelos colegas da selecção.

Negativo foi o facto da espanhola Laura Sanchez mais uma vez deixar escapar o ouro. Com a ausência da Tanja Romano, tinha o caminho livre e apesar de ter recuperado no programa longo mais uma vez não conseguiu triunfar. Era sem dúvida alguma a melhor.

5- A selecção portuguesa esteve bem ? Ainda fomos penalizados?
LILIANA - Como já disse, a selecção portuguesa esteve muito bem.
Foi a selecção que alcançou o maior número de medalhas num campeonato europeu e mesmo aqueles que não chegaram as medalhas fizeram muito boa figura e lutaram sempre até ao fim, isso é muito bom, muito importante e tem muito significado para a modalidade no nosso país.


6- Qual a maior diferença que se sente entre a nossa patinagem e a dos países mais desenvolvidos?
LILIANA - Sinceramente, neste momento, relativamente aos atletas que integram a selecção nacional, não se sente grande diferença comparativamente com os atletas dos países ditos mais desenvolvidos.
A Itália continua a ter muita força e sem dúvida continua a ser a grande potência da patinagem, no entanto em relação aos outros países já não se vê diferenças como antigamente. Nomeadamente neste campeonato, em todas as provas que participaram atletas portugueses, competimos de igual para igual para os lugares de topo.



7- Do teu ponto de vista, temos (Portugal) desenvolvido ou estagnamos?
LILIANA - Sem dúvida alguma que com muito esforço e dedicação de todos temos desenvolvido, principalmente nos últimos dez anos, no entanto, é essencial continuar a trabalhar muito, pois temos atletas com muito talento no nosso país que podem fazer e alcançar ainda muito mais.

8- Há algum aspecto que merece ser falado e que não foi abordado nas minhas perguntas efectuadas?
LILIANA - Não, nada mais a acrescentar. Em geral, correu tudo muito bem.

Mais uma vez agradecemos à Liliana Andarde as suas esclarecedoras palavras. Até breve.

terça-feira, setembro 11, 2007

O olhar de Marta Ferreira sobre o Europeu em França


Agora temos a opinião da Atleta internacional, júnior, Marta Ferreira (terceira classificada em Livres e no Combinado neste europeu).

Muito Obrigado Marta! Parabéns . Tu mereces o sucesso. Foram muitos anos de trabalho. Chegou o teu momento de glória (ainda estou a pensar como foi possível, inicialmente, não te seleccionarem).
Aqui vai:
1- Como eram as instalações, o piso e a organização?
MARTA- A viagem foi boa apesar de ter sido bastante cansativa. Como na ida fizemos a viagem de noite passamos a maioria da viagem a dormir. Tínhamos um autocarro muito bom e a comitiva que foi connosco fez de tudo para que a viagem fosse agradável. O pavilhão em geral era bom. Apesar de não ter metade das condições que tivemos em Itália (no ano passado) ou em Tavira (em 2003) não podíamos queixar. O piso era bom. Era de granito (havia atletas que diziam que escorregavam mas para ser sincera eu patinei lá com as rodas Magnun 53 e para mim estava bom) e era bastante grande.
A organização era boa apesar de os atletas terem de se deslocar dos seus hotéis para o pavilhão nos seus autocarros, pois a organização tinha prometido que iriam ter carrinhas ao dispor das delegações o que não foi verdade. A delegação Portuguesa e a Italiana que se encontravam no mesmo Hotel tiveram que se organizar juntas para que os atletas não tivessem que sair do hotel apenas uma vez tendo de levar tudo para o pavilhão.

2- Quem está de fora fica com a sensação que a França está a fazer um grande investimento na patinagem artística. Isto é verdade? Qual a tua opinião sobre a forma e o caminho que os franceses estão a percorrer? Haverá algumas lições a tirar dos franceses?
MARTA- Sim. Na minha opinião acho que a França tem investido bastante na patinagem. Basta ver que o Campeão Europeu de Juniores em livres é francês e em dança juniores o 3º lugar também é da França. Em vários anos de competição internacional, não me recordava de ver tantos pódios franceses. Na verdade a França tem evoluído.
Sinceramente não sei de que forma nem o caminho que eles percorreram para chegar a este nível, mas acho que deve ser também muito do 'querer' dos atletas franceses e dos seus técnicos.
3- Este campeonato foi diferente do habitual porque houve países (por exemplo a Alemanha) que não participaram. O que se passou? Estamos perante uma guerrilha entre países ou entre um país e a CEPA?
MARTA- Segundo me chegou aos ouvidos, a Alemanha não participou porque os atletas alemães ainda se encontram em período de aulas e já o ano passado teriam avisado para realizarem o campeonato europeu mais tarde. Então, em forma de protesto do campeonato realizar nesta data, a Alemanha marcou o campeonato Alemão para o fim-de-semana do campeonato europeu.
Em obrigatórias sentiu-se a falta dos atletas alemães, mas em livres não.(Afinal em juniores femininos estavam a competir a campeã do Mundo Debora Sbei e a campeã da Europa do ano passado Valentina Di Paolo).Na minha opinião acho que quantos mais países em competição melhor.
4- Os níveis técnico e o artístico apresentados no campeonato foram baixos/médios/altos? Que atleta ou par se destacou pela positiva? e pela negativa?
MARTA- O nível técnico e artístico deste campeonato foi alto em Juniores Femininos/Masculinos e Seniores Masculinos/Dança e médio no resto das especialidades.
Para mim quem se destacou pela positiva foi o francês Frederic Garcia (Camp. Europeu de Juniores-Patinagem livre) que apresentou em treinos em combinação dois triplos rittberger e no programa longo apresentou a sua magnifica combinação de saltos composta por: Duplo Axel/Rittberger/Triplo Teoloop/Euler/Triplo Salshow.
Pela negativa foi a espanhola Monica Gimeno (Camp. Europeia de Seniores-Patinagem livre do ano passado) que este ano as suas prestações foram muito fracas em relação ao que todos estavam a espera (afinal tinha ganho o campeonato europeu à italiana Tanja Romano).
5- A selecção portuguesa esteve bem ? Ainda fomos penalizados?
MARTA- Sim, os portugueses estiveram bem. Acho que em geral todos nós (atletas) entramos para o ringue com vontade de dar o nosso melhor, de mostrar que trabalhamos e que evoluímos. E a verdade é que tivemos bons resultados.
6- Qual a maior diferença que se sente entre a nossa patinagem e a dos países mais desenvolvidos?
MARTA- Acho que neste campeonato já não se notou tanta diferença entre, por exemplo, Itália e Portugal.
Acho que os portugueses já começam a fazer tanto como os Italianos e acho que agora o campeonato já esta mais dividido. Deixou de ser o pódio todo de Itália e já começam a haver países como Portugal, Espanha, França, etc. a lutar pelos lugares cimeiros.
7- Do teu ponto de vista, temos (Portugal) desenvolvido ou estagnamos?
MARTA- Acho que evoluímos. Basta ver que, há uns anos atrás, Portugal competia em campeonatos internacionais só para marcar presença e agora já lutamos pelos pódios contra os melhores do mundo.
8- Há algum aspecto que merece ser falado e que não foi abordado nas perguntas efectuadas?
MARTA- Não. Em resumo, o campeonato correu 'sobre rodas'.

Mais uma vez agradecemos à Marta Ferreira as suas interessantes palavras. Até breve.
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